Ao volante de
um automóvel quase clássico, mas resistente e confortável, a equipa da
Biblioteca do Agrupamento de Santa Marta de Penaguião, liderada e bem conduzida
pela sua professora coordenadora, Filomena Nunes, deslocou-se à EB 1 de Fontes,
no dia 24 de outubro. A tarde, embriagada de luz e de cheiro a frutos maduros,
estendia o seu manto quente por cima de montes e vales, videiras e pinheiros. O
sol de outubro ainda aquecia o asfalto da estrada sinuosa que serpenteia a
encosta. A escola de Fontes apresentava-se altaneira e orgulhosa no cimo da
colina sobranceira a Santa Marta de Penaguião. O vale a perder de vista parece
uma concha com saudades do passado. E contou-se uma história do passado.
Viajámos ao tempo em que os romanos dominavam a Lusitânia, a Britânia, a Gália,
e tantos outros territórios. Falamos da “Lenda de São Martinho”, tantas vezes
contadas nos serões à lareira, nas escolas (mesmo as antigas, como a de Fontes)
e que pulula quase todos os manuais de português de que há memória. Todos
sabemos que Martinho era um soldado romano de coração bom e que teve uma
excelente educação para os valores, dada pelo seu pai, pertencente, também ele,
ao aclamado e numeroso exército de Roma. O contador de histórias, como todos os
bons leitores e narradores, António Martins, professor de português e inglês no
agrupamento, acrescentou “novos pontos”: decidiu viajar para a Lusitânia e
colocar o garboso soldado em terras de Penaguião. Contou que Martinho viajava
desde Roma até à Gália (atual França) no seu cavalo castanho e destemido e que
resolveu fazer um desvio por terras nossas, sabendo da fama dos vinhos e dos
frutos secos. O soldado levava o alforge repleto de castanhas do Viso e de
vinho tinto de Fontes. Ao passar em Sanhoane viu um pobre mendigo à beira do
caminho. Naqueles tempos os outonos eram frios, logo desde de setembro, e
aquele dia de novembro do século I era particularmente frio, ventoso e
pluvioso. De facto, não se falava de aquecimento global, nem se pensava em
secas extremas… Naqueles tempos, todavia, havia algo que se tem mantido quase
sempre: muita pobreza… Martinho
encheu-se de compaixão e amor pelo mendigo. Tirou a sua capa, cortou-a e
dividiu-a. Pegou nas castanhas e no vinho e dividiu-o. Reza a lenda que de
Sanhoane até à Gália não mais a chuva, o frio ou o vento incomodaram a viagem
de Martinho. Em França, Martinho passou a ser sacerdote e mais tarde bispo e
continuou a ser uma pessoa com valores de solidariedade, de amizade, de
partilha, de bondade, de amor. Mais tarde, foi considerado santo: o São Martinho.
Esta lenda permite que ainda hoje se festeje o São Martinho, em novembro, para
se comemorar este ato de partilha da capa e da merenda.
As crianças de
Fontes ouviram a história como se tivesse sido contada pela primeira vez, como
se a neve fosse pisada de fresco, como se a terra fosse lavrada há poucos
minutos, como se os seus sorrisos fossem melhores do que todos os sorrisos do
mundo, como se as suas vozes inundassem
a “velha” escola e se perpetuassem nos corações de todas as crianças do mundo.
António
Martins
O professor António Martins na E. B. 1 de Fontes |
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